sexta-feira, 20 de julho de 2012

Take 1

Se pensarmos bem, muitas das pessoas com quem convivemos no dia-a-dia, têm capacidade criativa digna de estar em Hollywood. Portadoras de potencial, essas pessoas só não são famosas porque as histórias que criam se limitam a ser espalhadas de boca em boca no pequeno mundo que as rodeia e não se dão ao trabalho de as passar para o papel e talvez fazê-la chegar a alguém que o torne público. Mas do resto elas tratam. Reparem: a história é criada, entre personagens que nela participam, o desenrolar dos eventos e acontecimentos principais; os actores, que não têm qualquer poder de decisão sobre os personagens que têm de interpretar, são minuciosamente seleccionados de entre todos os seus conhecidos; e o espaço físico vai sendo proporcionado ao longo do tempo. Estes seres são guionistas, directores, realizadores, produtores e ainda participam como personagens! (É pena que não haja um operador de câmara, porque eu gostava de poder assistir ao produto final.)
Todos nós já passamos por uma situação semelhante. Somos forçados a agir de acordo com o guião de uma novela na qual não aceitámos participar.
A história vai-se desenrolando, e passas por muitos episódios que a pessoa faz a crer a todos os outros que realmente aconteceram. Até que chega uma altura em que deixas de ter importância e, quando pensas que a história está a chegar ao fim ou que a tua participação já não é requerida porque o teu personagem morreu na história central, ou foi viajar, surge um novo interesse que te trás de novo à ribalta da cena! Isto vai acontecendo enquanto te debates e preocupas com os porquês e com a importância que te é atribuída, quando o que queres é passar despercebido porque nunca fizeste questão de fazer parte de tal evento.
Mas quando deixas de dar valor à centralidade que essas pessoas te dão, e a  história passa a passar-te ao lado, as coisas começam a mudar de sentido. Não fazemos de propósito, mas a pessoa deixa de ter tanto interesse, e acaba por descurar a nossa participação. Não precisamos de criar um guião nosso para resolver as coisas, porque o/a autor/a da história inicial, onde fomos colocados à força; embora que involuntariamente, cria pontes sobre o rio de estupidez pegada que gerou. E as pessoas influenciadas acabam por perceber que afinal o mau da fita não é assim tão mau e o bom da fita não é assim tão bom, é apenas sonso.

O processo criativo é lixado, não é?